quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Poesia e Meio Ambiente: a Amazônia na poética de João Veras. *

Árvore de 500 anos é cortada na Bahia - Foto: Daniel Thame

Recortes da Cena Contemporânea traz uma discussão baseada no tema ‘Poesia e Meio Ambiente’, através de uma breve análise de um poema de João Veras, poeta de nossa região. As discussões foram travadas no interior da disciplina Teoria da Literatura, cujo objetivo era compreender como o autor constrói sua concepção lírica a partir do contexto acreano. O poema “Meio Ambiente” centra-se nas seguintes temáticas: meio ambiente e sua relação com o homem. Para abordar o belo poema em tela, utilizaremos a teoria Ecocrítica, metodologicamente seguiremos aos seguintes passos: análise e interpretação do texto a partir de determinado aporte teórico. Vamos inicialmente definir Ecocrítica. Segundo Greg Garrard, “a Ecocrítica singulariza-se, entre as teorias literárias e culturais contemporâneas, por sua estreita relação com a ecologia.” (Garrard, 2006, p. 16). Vejamos agora o poema de João Veras:

MEIO AMBIENTE

(João Veras)
Lá, a árvore imóvel, intacta e táctil
sem poder
sem manifesto
sem movimento
a olhar o homem
a lhe torar o ventre.
O poema acima foi retirado do livro ‘Cantos e encantos da Floresta I’, a partir da rigorosa (e primorosa) seleção e organização de Laélia Maria Rodrigues da Silva, sendo publicado pela editora da Ufac – Edufac em 2004. O livro contém obras de 19 poetas, e sua apresentação seguiu-se à uma epígrafe retirada dos dois poemas acreanos, de Mário de Andrade – “Como será a escureza/desse mato-virgem do Acre?”. Refletindo a partir da indagação poemática marioandradina observamos que o poema ‘Meio Ambiente’ tece representações específicas em relação ao universo histórico/cultural e social amazônico, em que o homem explora o meio ambiente até seu total desmantelamento.
O poema trata do desmatamento das florestas, e a figura do sujeito lírico parece se caracterizar pela denúncia e a da floresta pela fragilidade diante da insensibilidade da ação do homem, “a lhe torar o ventre”, tirando-lhe a vida. Nesse sentido, aliás, é que entra a Ecocrítica – em sua busca por “rastrear as ideias e as representações ambientalistas onde quer que elas apareçam, enxergar com mais clareza um debate que pode vir ocorrendo, amiúde parcialmente encoberto, em inúmeros espaços culturais” (Garrard, 2006, p. 15). Olhando a literatura pelo viés da Ecocrítica observamos que essas duas esferas literatura e ecologia se juntam para abordar um assunto essencial para a vivência do ser humano no planeta terra – A Gaia. Enquanto ser vivo, a árvore – esse ser feminino que doa vida de várias formas tem seu ventre mutilado pela ação criminosa do homem.
A esta compreensão semântica do poema alia-se sua estrutura, que se apresenta de forma inovadora, formatada por apenas uma estrofe, com versos assimétricos, do ponto de vista da métrica tradicional. Neste poema de João Veras, cada verso contém tamanhos diferentes o que nos revela assimetria, conforme podemos verificar nos seguintes versos: “Lá a arvore imóvel, intacta, táctil/ sem poder. Do ponto de vista sintático, o poema é solto, uma vez que o eu lírico opta por versos livres (sem pontuações) dando liberdade ao seu leitor durante o processo de leitura/recitação.
Quanto ao aspecto sonoro, sabemos que existem meios para se construir a sonoridade para além das repetições tradicionais como refrão e rimas ao final dos versos. Se era verdade que no passado, a sonoridade no poema estava muito ligada às rimas e ao refrão como primeira forma de conservar o lirismo, no contemporâneo ocorreu a perda da rima que, no entanto, recuperou a sonoridade no interior do poema através do uso da assonância e da aliteração – que consistem no uso e abuso de certas vogais abertas ou fechadas, ou na repetição de certas consoantes. Temos ainda a importantíssima presença da metáfora. Segundo Norma Goldestein, a “metáfora simplificada é uma comparação abreviada, ou seja, da qual se retira a expressão como ou similar”. No poema, por analogia, o ventre da árvore é comparado ao ventre de uma mulher, “A olhar o homem/ a lhe torar o ventre”, o ventre é um lugar sagrado, em que tem a procriação de seres, e na obra esse ventre é a representação da sua seiva, ou seja, a sua vida se doando em contribuição à vida planetária. Súbito, sem “manifesto ou qualquer reação” cortam-lhe a vida.
Como vimos, o poema “Meio Ambiente” retoma um tema singular para sobrevivência do planeta terra, nele o eu lírico introduz a árvore como um ser vivente tornando se inerte perante a ação do homem durante sua destruição. De fato, toda natureza nasce e perece através de processos naturais e artificiais, como é o caso do poema em tela em que a morte da arvore ocorre como um assassinato.
ora, a obra que analisamos elabora o dialoga com a sociedade trazendo visibilidade a um assunto pertinente aos dias de hoje. A questão abordada no poema ressalta o meio ambiente, questão ambiental focada pela Ecocrítica que, como já mostramos, articula e relaciona a literatura e o ambiente físico. Retomemos o mote do significado – qual seria a definição de Ecocrítica? Segundo Glotfelty: “Dito em termos simples, a Ecocrítica é o estudo da relação entre literatura e o ambiente físico. Assim como a crítica feminista examina a língua e a literatura de um ponto de vista consciente dos gêneros, e a crítica marxista traz para sua interpretação dos textos uma consciência dos modos de produção e das classes econômicas a Ecocrítica adota uma abordagem dos estudos literários centrada na terra”. (GLOTFELTY,1996,p.xix).
Nesse caso, os ecocríticos buscam vincular suas análises no vértice político, sendo que, na acepção de Richard Kerridge (1998) “(…) a Ecocrítica procura avaliar os textos e as ideias em termos de sua coerência e utilidade como respostas á crise ambiental”, além dessas funções a Ecocrítica procura trazer pesquisas, artigos e ate mesmo analises literárias visando o ativismo ambiental. Vale ressaltar que os ecocríticos tem uma relação limitada referentes as ciências da ecologia, tendo em vista que suas teorias são embasadas por teorias literárias e culturais contemporâneas.
Outro aspecto que a obra trata, como já mostramos acima, é a comparação da árvore como um ser vivente já que o eu lírico buscou introduzir algumas características que somente seres animais ou humanos possuem, como os meios sensórias ao se tratar do olhar da arvore perante o homem “a olhar o homem”, além dos órgãos como o ventre “a lhe torar o ventre” simbolizando a vida. Sendo assim o poema “Meio Ambiente” dar ênfase a um assunto que em pleno século vinte e um não é tratado de forma correta, em que a natureza é destruída de forma banal, obtendo como embasamento teórico a Ecocrítica que trabalha justamente com essa questão ecológica.
Para despertar a atenção do leitor, o eu lírico busca usar alguns meios que podem causar o efeito que anseia. Nessa proposta há o apelo a sensibilidade ao olhar a árvore como um ser vivente que pode ter sensações, tendo em vista essa sensibilidade é representada ao descrever a ação do homem ao assassinar a árvore e sua reação descritas detalhadamente, desde seu estado atual que se encontrava parada, sem movimento até sua reação ao olhar o homem e lhe torar o tronco que no poema seria o ventre. No entanto, o eu lírico trabalhou de forma nobre ao se tratar do meio ambiente como um ser que também como outro vivente precisa ter seus direitos respeitados entre eles o direito a morte natural.
Assim, para tratar de um assunto que não teve a devida visibilidade desde antes da atuação de Chico Mendes, a poesia de João Veras, engajada, usa da sensibilidade das emoções que o ser humano contém. Introduzindo o ventre da árvore para causar o impacto desejado – ventre, elemento que para as mulheres traz a simbologia da vida e no poema tece a mesma ótica ou analogia – uma vez que o tronco da arvore pode ser comparado ao útero da mulher que ao momento que é cortado tem sua vida interrompida, além de relacionar com a critica feminista, causando o efeito desejado no leitor ao se ler esse poema de poucos versos mais que contém uma grande simbologia enorme e significativa.
Bruna Lalinny Magalhães da Silva ¹, Drª Simone de Souza ² – ¹ Acadêmica do quinto período do curso de licenciatura plena em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do Acre e do sexto período Psicologia pela UNINORTE, membro do grupo PET-Letras. ² Docente do curso de licenciatura plena em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Acre, doutora em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo, orientadora do programa de Iniciação Cientifica e tutora do grupo PET-Letras.
* Texto originalmente publicado pelo jornal do Acre, Página 20, em 2015: http://www.pagina20.net/recortes-da-cena-contemporanea/poesia-e-meio-ambiente-a-amazonia-na-poetica-de-joao-veras/

O enraizamento da terra na poesia do angolano Ondjaki. *


Através dos livros, romances e poesias, viajamos em diversos mundos, sejam eles conhecidos ou não. A literatura brasileira, de grande apreciação nacional e internacional, vem se tornando influência para as literaturas emergentes, principalmente as africanas lusitanas, como as moçambicanas e angolanas, que tem o português como língua oficial. Além de sua influência, essas literaturas africanas que vem emergindo recentemente, são requisitos para o ensino de literatura no Brasil, segundo o Art. 26 da Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96, pois retrata a cultura e a terra daqueles que aqui foram escravizados e marginalizados, e que mesmo assim constituíram uma nação e formaram um povo. Este novo tipo de literatura dialoga com a Epistemologia do Sul, definida pelo sociólogo Boaventura de Souza Santos (2010). Esta ideologia ressalta e trabalha com a distinção, e ao mesmo tempo, a associação entre o certo e o errado, considerando todas as situações, sejam elas de cunho social, histórica ou econômica e, por que não dizermos, literária. Tal literatura apresenta artistas de um dom literário incomparável, fato comprovado pelo artista Ndalu de Almeida, prosador e poeta angolano que atende pelo pseudônimo de Ondjaki, e que para mim é excepcional do jeito mais excêntrico inimaginável. É um escritor jovem, com apenas 36 anos, mas que possui livros extraordinários, que nos prendem e nos fazem questionar sobre o que há ao nosso redor, justamente pela sua temática central, a natureza e os seus recursos. Atualmente mora no Rio de Janeiro, mas já morou em Lisboa e em Nova Iorque, no qual, respectivamente, estudou e produziu. Apesar de morar tão longe de sua terra natal, Luanda, a capital da Angola, é através de suas produções (prosas, poesias, documentários) que ele mostra o seu amor à suas origens, e permita-me dizer que talvez este seja tal incentivo pela sua dedicação e referência passional a tal lugar. Produz livros infantis e romances, todavia creio que sua simplicidade e beleza se encontram na poesia, que nos preenche e interroga pela necessidade e autenticidade com a qual trata a natureza e seus elementos.

Prendisajem

o tomate avermelha mundos.
o cheiro da terra perdoa constipações.
folha é parede verde
para sol chegar.
flor é uma outra narina de abelha.
alcunha de qualquer jardim
é biolabirinto.
a exagera em
amizades com a merda.
o pirilampo é a lanterna do poeta.
o porco-espinho exagera em
modos de precaução e
a mandioca tuberculiza o chão
o cheiro da terra rejuvenesce
a humanidade.
Arve jánãoélógica
ser folha é
nem sempre estar para sol.
a outra folha
lém de nossa vizinha
pode ser nossa irmã de sombras.
a folha
enquerendo ser lago
acontinenta o galho.
o galho
ensendo fio de cabelo
gentifica a arve.
a arve
de tanto ser ela
lembra um sorriso quieto.
lém de transpirar
bonito é que ela respira.
Ondjaki, Poeta Angolano, do livro “Há prendisajens com o xão (o segredo húmido da lesma & outras descoisas)”.
Na poesia de Ondjaki, apesar de sua poesia natural, tanto ao tema como à composição, o que realmente chama atenção é o seu apelo à oralidade, a desobediência às regras gramaticais e o uso do neologismo, que nada mais é do que inventar novas palavras, até então não discutidas no uso formal da língua. Como fã de seu trabalho, especialmente de sua poesia, recomendamos o seu livro poético que mais nos encantou: Há Prendisajens com o Xão (O Segredo Húmido da Lesma e Outras Descoisas) de 2011, da Editora Pallas do Rio de Janeiro, do qual destacamos dois poemas acima referidos. É um livro pequeno, que contém 32 poemas em 68 páginas, o que torna a leitura mais descontraída e instigante. Logo que você começa a ler o livro, se é perceptível como as poesias são excêntricas e totalmente diferentes das demais, justamente por não seguir um padrão ou uma norma. Através de poemas e versos curtos, histórias inesquecíveis de um povo são contadas, seja ele imaginário ou não, na qual a esperança nunca morre, sendo a defesa primordial para a essência vital que carregam dentro de si. Vale ressaltar que ele, como um cidadão angolano, que ali nasceu, cresceu e viveu, é bem mais que um poeta que fala sobre sua terra natal. Comprometido com a situação política e econômica de sua nação, que se sustenta entre guerras civis, como o mesmo afirma, ele retrata a realidade do povo angolano, e como eles encaram tais problemas, que não são poucos, esbanjando alegrias e histórias para que sejam repassadas.
Jeissyane Furtado ¹, Drª Simone de Souza ² – ¹ Acadêmica do quinto período do curso de licenciatura plena em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Acre, bolsista de Iniciação Cientifica/CNPq e voluntária do grupo PET-Letras. ² Docente do curso de licenciatura plena em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Acre, doutora em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo, orientadora do programa de Iniciação Cientifica e tutora do grupo PET-Letras.
* Texto originalmente publicado do jornal do Acre, Página 20, em 2014: http://www.pagina20.net/recortes-da-cena-contemporanea/o-enraizamento-da-terra-na-poesia-do-angolano-ondjaki/

Vampiros, zumbis & outras monstruosidades – Práticas leitoras adolescentes *


O que você compreende por Literatura de massa? Em poucas palavras, são o que as pessoas andam lendo hoje em dia, através de romances e outras narrativas que tematizam a ação de monstros como zumbis, vampiros e outros seres fantásticos e sobrenaturais. Podemos citar como exemplos títulos presentes na lista de mais vendidos da revista Veja: A Culpa é Das Estrelas, por John Green, O Lado Bom da Vida, por Matthew Quick, A Esperança, por Suzanne Collins – este último pertencente a uma trilogia literária chamada Jogos Vorazes, que você já deve ter ouvido falar através de sua adaptação cinematográfica – que levou o mesmo titulo da trilogia – lançada em 2012 e distribuída no Brasil pela Paris Filmes.
O foco desse artigo é tentar esclarecer – baseado em pesquisas próprias e na obra de Daiane da Silva Lourenço – o porquê desse tipo de literatura interessar tanto os jovens do século XXI, alguns dos fatores já foram deixados implícitos no parágrafo acima, como as adaptações cinematográficas e até mesmo o fato de tais títulos constarem em listas de Os Mais Vendidos. Um dos principais motivos que atraem os jovens à chamada literatura de massa é a facilidade de leitura. Queira ou não, a literatura erudita – clássicos como Dom Casmurro, de Machado de Assis – exige de seu público certo nível de leitura – letramento até – para uma boa e compreensiva leitura. Existem, além desses, vários outros fatores relevantes, que variam de individuo pra individuo, inseridos em contextos sociais específicos. Afinal, “cada um tem seu gosto”.
Como leitores assíduos desse tipo de narrativa, podemos expor alguns fatores pessoais que nos levaram a escolha de um livro desse gênero. Por exemplo, pequenos detalhes técnicos, como o título e a capa, envoltos em um projeto gráfico ousado. “Não se deve julgar um livro pela a capa”, porém assim como um belo prato gourmet, na literatura de massa o que compra o freguês é a apresentação. Segundo Daiane Lourenço, as editoras têm investido cada vez mais na apresentação de seus livros: Capas, resumos, breves reviews, títulos, são essas características marcantes que levam o jovem a abrir o livro, e checar seu conteúdo, antes – ou mesmo depois – da compra.
Há também o fator da continuidade, por assim dizer. Hoje apenas um livro não basta, deve haver sagas, trilogias, quadrilogias, coleções enormes que ultrapassam o número de dez volumes, em alguns casos. Os jovens de hoje anseiam por leituras longas, que se arrastem por horas, e os ‘suguem’ de suas realidades, os transportando para mundos inexistentes. É onde entra outro fator essencial, que torna o conteúdo desse tipo de literatura ainda mais atraente aos leitores de hoje.
Acreditamos que mais de 60% da literatura de massa consumida hoje, se enquadra em categorias como “sobrenatural”, “fantasia”, “ficção cientifica”, “literatura fantástica”. Monstros, seres mitológicos e sobrenaturais sempre habitaram o imaginário humano, e hoje eles habitam as páginas dos livros que nossos jovens consomem. Podemos citar como exemplo: Rick Riordan, escritor norte-americano, autor da saga Percy Jackson & os Olimpianos. Rick se utilizou da mitologia grega, a mesma que sempre atraiu a atenção de jovens como nós, e a levou a um novo nível, digamos assim. Na mitologia de sua saga, a relação entre deuses e humanos tornou-se ainda mais comum do que a relatada nos livros de História Antiga. Em pleno século XXI, semideuses – crianças nascidas da relação entre deuses e humanos – ainda existem no plano do imaginário. Tais crianças são dotadas de poderes herdados do lado divino de seus DNAs, e para ensiná-las a lidar com tais poderes, existe o Acampamento Meio-Sangue. Acampamento para onde são mandadas todas as crianças filhas de deuses do Olimpo.
Percy Jackson & os Olimpianos trata-se de um grande fenômeno mundial, o que nos leva a outro fator interessante: A oportunidade de interação social que tais obras trazem junto de si. A base de fãs de algo, como uma saga literária, é chamada de Fandom, união das palavras “Fan” do inglês, que significa “Fã”. E de “Kingdom” também do inglês, que traduzida se torna “Reino”. Fandom, nada mais é – em certa tradução literal – o reino dos fãs. Citemos, como exemplo, os fãs da saga literária britânica Harry Potter, autointitulados Potterheads. Quando você lê Harry Potter e passa a ser um fã, você passa a ser um Potterhead, e isso te dá à oportunidade de interagir com outros fãs da saga ‘de igual para igual’, aumentando sua base de amigos e sua interação social baseada em gostos em comum e assuntos em comum. Tudo bem, essa já é definição básica de amizade, porém, juntar-se a um fandom é um fenômeno de certa proporção que nem mesmo os participantes de tais ‘reinos’ podem compreender ou explicar.
A literatura de massa é atraente aos jovens olhares, não apenas pelos fatores citados acima, mas por vários outros. O fenômeno do fantástico e dos best-sellers é algo tão complexo e grandioso, que para definirmos o que, de fato, fazem os jovens procurar cada vez mais tais textos e obras, seria necessária uma séria investigação baseada nos fatos acima e em outros. Tal afirmação pode ser confirmada pelo número crescente de estudiosos se especializando nesse tipo de literatura e buscando entendê-la melhor, como a Mestre em Letras que nos ajudou a chegar em muitas das conclusões acima, Daiane da Silva Lourenço.
Aldeir Paiva de Oliveira ¹ Dr.ª Simone de Souza Lima ² – Acadêmico do quinto período do curso de licenciatura plena em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Acre, bolsista de Iniciação Cientifica/UFAC e voluntário do grupo PET-Letras ¹, Docente do curso de licenciatura plena em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Acre, doutora em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo, orientadora do programa de Iniciação Cientifica e tutora do grupo PET-Letras ²

Uma leitura das relações de poder no universo simbólico do Mapinguari. *

Recortes da Cena Contemporânea desta semana inicia com um trecho da crônica de Rachel de Queiroz, intitulada Mapinguari. Poucos sabem que a escritora viveu dois anos de sua vida em Belém. A crônica em tela resulta desta experiência em terras paraenses. Convidamos nosso leitor a se debruçar sobre ela, que assim diz: “Noite de lua, no terreiro, os homens procuram se esquecer do assunto eterno que é a falta de chuva e recordam histórias do Amazonas.
Recordam é modo de dizer: desses todos que estão aí nenhum foi do tempo em que se ia para o Amazonas, e o que sabem ouviram de pais e avós. Contam os casos clássicos de boto e curupira, e hoje saiu em cena um bicho pouco falado, o Mapinguari.
Bicho não, que o mapinguari tem a figura de um caboclo gigante, três metros de altura, pés espalhados e braços enormes. Anda nu, o corpo azeitão e pelado é liso, sem o menor arranhão de mato. Cabelo só tem na cabeça, curto e ruivo, deixando à vista as orelhas pontudas.
Foto: Cedida


Foto: Cedida

Mapinguari só come coisa viva. O gosto dele é morder na carne quente e sentir o sangue esguichar. Come guariba e outros macacos que apanha nas árvores, com muita fome, é capaz de se agachar à beira d’água tentando pegar algum peixe de couro; de escama não gosta. Mas a comida predileta do mapinguari é mesmo gente e, só quando lhe falta carne de homem, come a dos bichos. Quando caça, imita pio de pássaro e voz humana; mas só sabe dar uma fala fininha, esquisita, que mal engana à distância.
Pois um dia saíram para o mato dois seringueiros, e um deles se chamava Luís. Pouco além se separaram, tomando cada um a sua estrada de trabalho. Mas não estavam afastados, tanto que um ouvia a machadinha do outro a abrir o corte do leite na seringueira. Passou-se um tempo, e o que não se chamava Luís reparou que já não escutava a batida do companheiro. Prestou atenção – nada. Por um momento, teve a impressão de que ouvia a pisada de bicho grande quebrando o mato, mas devagar, cuidadoso. Teve medo e gritou: “Luís!”.
E como se visse de longe, uma vozinha fina respondeu: “Luíííííís!”
Ai, por que tão fina a voz de Luís? E por dizia Luís em resposta, se ele que chamara não se chamava Luís? Assustado, insistiu “Luís!” E de novo o gritinho, como um eco: “Luís! Luíííííís!”
O caboclo aí compreendeu que era o mapinguari imitando a sua voz. Não quis saber mais de nada e, morrendo de medo, meteu-se pelo mato, trepou numa árvore alta e se escondeu entre os galhos. […] – Trecho da crônica Mapinguari de Rachel de Queiroz.
O Mapinguari é uma narrativa de teor místico oriundo da cultura oral do norte do Brasil. Segundo ela, o Mapinguari habita as matas da floresta amazônica. Tal como acontece com toda estória procedente da cultura oral, o Mapinguari foi passado de pai para filho, de boca em boca, através de conversas paralelas em ambientações várias. E dessa forma, o mesmo se moldou ao longo da história desde sua “criação” até os tempos de hoje. Fato esse que explica a razão do Mapinguari ser um ente multifacetado quando se trata de suas características físicas, algo que discorreremos ao longo deste artigo. Pouco se sabe sobre a origem do mito, mas o número de estudos sobre o Mapinguari vem aumentando quantitativamente, e através destes estudos, temos certa “iluminação” quanto a etimologia desse encantado da floresta.
O Velho Mundo, ao longo de sua formação sendo formatado a partir de um imaginário prenhe de seres místicos e míticos. Alguns deles eram gigantes com características semelhantes ao Mapinguari, alguns possuíam apenas um olho, outros apenas um pé, alguns com pés voltados para trás, outros com bocas ou olhos em seus peitos ou umbigos. Esses seres habitavam ilhas ou lugares pouco habitados do Velho Mundo, sendo temidos pela população de tais lugares, que acreditavam veemente em sua existência. Deste modo, acreditamos que o Mapinguari seja uma (re)leitura (re)significada destes seres mitológicos que “existiram” há centenas de anos atrás na Europa. O que explica suas variações e semelhanças entre esses seres.
Em algumas localidades do Brasil, o Mapinguari é descrito como ser de pelo ruivo, uma grande boca no lugar do umbigo ou do peito, enquanto em outras localidades ele possui um olho em seu rosto/testa e outro olho em seu umbigo, outras localidades o Mapinguari tem pés voltados para trás – assemelhando-se ao Curupira, outro ser encantado da Amazônia – demostrando assim que a configuração física do Mapinguari muda de acordo com o contexto geográfica e a ressignificação simbólica de cada local, “O olho no meio da testa não é o mesmo do olho do umbigo do Mapinguari. O olho de cima é o olho do patrão. O da barriga é de quem trabalha”. – (Trecho da obra Do Olho do Umbigo do Mapinguari, de Jones Dari Göettert).
Göettert emprega o Mapinguari como vassalo do Seringalista, entregando-o a função de subjugar o seringueiro em favor do Seringalista, criando um sistema hierárquico baseado em medo e violência dentro do Seringal. Acima de tudo, o Mapinguari é empregado como crítica social ao sistema feudal retratando um período da história do Acre e da Amazônia.
Alguns acreditam que o Mapinguari existe no plano real e já habitou nossas florestas. Essas pessoas acreditam que o Mapinguari nada mais é que uma bicho-preguiça gigante, sendo tal hipótese bastante usada na ficção, “(…) É que alguns estudiosos admitiam a hipótese de esses animais constituírem uma espécie de elo perdido. Talvez, alardeavam, fossem remanescentes de preguiças gigantes que povoaram a América do Sul há milhões de anos”. – (Trecho da obra Mapinguari – O Devorador de Cabeças de Rogério Andrade Barbosa).
E também é sustentada por relatos recolhidos por autores como Valdir Vegini que publicou recentemente a obra “O Monstruoso Mapinguari Pan-Amazônico” pela Editora Temática de Porto Velho/RO.
No Acre, o Mapinguari é uma figura “popular”, fazendo parte do senso comum da população, trata-se de uma figura carimbada quando se fala do folclore local, temos esculturas do mesmo em nosso Parque Ambiental Chico Mendes e também temos as belíssimas esculturas do Mapinguari e de outros seres fantásticos de nosso cardápio imaginário no jardim da casa do artista plástico Enock Tavares que fica na Vila Custódio Freire. Isso demonstra que o Mapinguari também é um ser multimidiático, transcendendo seu ambiente simbólico e imaginário dentro da cultura oral do povo amazônida.
Em outras mídias, o Mapinguari é retratado como protetor da Floresta, um agente da natureza quando se trata de preservar seu habitat e o equilíbrio existente na Natureza. Comumente, a trama trata de algum crime ambiental sendo cometido por alguma empresa ou pessoa física, é quando Mapinguari entra em cena, assustando, afugentando e, algumas vezes, assassinando os vilões da trama, que ousam perturbar o frágil equilíbrio entre flora e fauna que existe na Floresta.
Deste modo, verificamos a complexidade do ente encantado amazônico, que se constrói nas diversas ideologias sociais. Atendendo a mecanicidade do feudo, o Mapinguari se unificou a cultura do povo amazônida, sendo, assim, componente elementar na história de seus povos, na medida em que representa o ser protetor e visionário da floresta amazônica.
Aldeir Paiva de Oliveira ¹ Dr.ª Simone de Souza Lima ² – Acadêmico do quinto período do curso de licenciatura plena em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Acre, bolsista de Iniciação Cientifica/UFAC e voluntário do grupo PET-Letras ¹, Docente do curso de licenciatura plena em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Acre, doutora em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo, orientadora do programa de Iniciação Cientifica e tutora do grupo PET-Letras ²

A representação simbólica da mulher indígena na literatura de José de Alencar e Raimundo Morais. *

Recortes da Cena Contemporânea desta semana trás uma leitura acerca da representação simbólica da mulher indígena na literatura, desde José de Alencar até Raimundo Morais. Para quem não sabe, Raimundo Morais ficou muito conhecido após defender Mário de Andrade em carta após as discussões em torno da existência de plágio em Macunaíma. Vamos ao texto. Verificando a harmonia da mulher com a natureza, em seus aspectos reprodutivos que são particulares ao feminino, denotamos a partir de discussões de gênero e diversidade a representação da Mulher Indígena na Literatura Brasileira e Amazônica. Para isto, buscamos na literatura canônica de José de Alencar e Raimundo Morais, personagens femininas que abordassem a discussão proposta – a analógica representação da mulher indígena com a natureza e o espaço mítico que vinha a ser conhecido como Amazônia Brasileira.
Estátua de Iracema na lagoa de Messejana - Foto: Divulgação


Estátua de Iracema na lagoa de Messejana – Foto: Divulgação

Ponderando a condição minoritária no qual a mulher indígena se encontra, devido a sua condição étnica e de gênero, verificamos a sua posição ao longo da história da humanidade. Esta que fora marginalizada e silenciada pela vitória e soberania do paternalismo, representado não somente pela figura masculina, mas também pela condição colonizadora dos portugueses. Para isto, nota-se uma realidade opressora que se contrapõe à representação e a personificação da mulher indígena no plano ideal e mítico.
No plano literário e ideológico, ressaltamos a autonomia e poder concedida a índia – o que acaba por corresponder a critica da verdadeira luta com a qual esta mulher realmente convive. Detentora da voz, do poder e da vida, a mulher indígena no plano literário é representada como a mulher bela, intocada e ingênua, mas que por ora, também é o ser maligno e amaldiçoado, sendo aquela que gera a traição e o fim – ou renascimento – dos povos, personificados, geralmente, na figura do mestiço, o anticristo de suas nações.
Assim como Eva, Malinche e Pocahontas – personagens femininas que se encontram no ideológico ocidental – Iracema e Corina, personagens das obras Iracema e Ressuscitados, personificam e representam esta mulher que toma decisões que estão além de sua compreensão étnica e sexual, sendo por isto, adoradas ou demonizadas.
Iracema e Corina são personagens que se comunicam na Literatura Brasileira, independente da época, das necessidades sociais e ideológicas e da periodização literária no qual foram criadas. Enquanto Iracema personifica o Novo Mundo, a Mãe da América, que abraça o colonizador, propõe uma nova nação através do mestiço Moacir e simboliza o etnocídio dos povos indígenas no processo de colonização brasileira, Corina representa a vingança da morte de sua antecessora, os processos de renovação cultural dos povos indígenas e a simbolização dos processos sociais e identitário dos povos indígenas, concebidos como selvagens, caboclos e índio, bem como segue o seguinte trecho da obra Ressuscitados, “Quando Corina viu, num relance aflitivo para o seu terno coração esta cena trágica e dolorosa [a da morte de Cauré], tão dramática e emotiva que esteve para enlouquecer, armou o arco e desfechou a derradeira frecha que possuia, frecha que se foi cavar no peito do marido […] Corina deu um salto de onça e veio sobre o morto [Cauré] espumando raiva e ódio. Pegou no cano do rifle descarregado que lhe estava junto, e transformando a carabina em acha, desfechou, com todas as forças de seus músculos, um profundo golpe no crânio do marido […] Corina estava horrivelmente sinistra. Era agora uma das próprias Fúrias […] tentando metamorfosear em pedra a carne daquele maldito que lhe matara o amante. […] Dando, todavia, com o Cauré estendido no chão, foi outra vez para ele, mudando-se de novo na imagem duma Sóror Pudibunda. Suas mãos piedosas acariciavam a cabeça ensanguentada do amante. Nisto chamou Japiim, tal se lhe houvesse ocorrido alguma ideia. Convidou o irmão a carregar o corpo, e, como se levasse alí o seu grande tesouro, os seus anelos e a própria alma, desapareceu na floresta. Nunca mais ninguém soube dela” (MORAIS, s/d, p. 317-318).
Na obra Ressuscitados, Corina nos propõe ideais que a diva alencariana não dispõe. Em constante analise com divindades e personagens míticas, como as Amazonas, as Ykamiabas, as Fúrias e a Esfinge, Corina propõe a diversidade amazônica e a presença da mulher neste ambiente. Configurada como a índia furtada que viveu nos seringais e no contexto político-religioso de Belém, Corina tinha condições de negação à suas raízes. No entanto, o que discorre na obra é totalmente o oposto, ela retorna a sua tribo e põe em tese discussões sobre o tratamento da mulher indígena e amazônica, o objeto que era domesticado para fins sexuais.
Além disto, verificar que essa mulher é análoga à riqueza do Novo Mundo, é perceber que sua integridade, suas vontades e liberdade foram deturpadas pelo colonizador. E isto vai além dos escritos literários, se estabelecendo nos fatos históricos e sociais, como decorre nos relatos atemporais de Octavio Paz que põe a mulher como La Chingada, e os americanos como órfãos, “[…] Nosotros, em cambio, luchamos con entidades imaginarias, vestigios del pasado o fantasmas engedrados por nosotros mismos. Esos fantasmas son reales, al menos para nosotros. Su realidad es de un orden sutil y atroz, porque es uma realidad fantasmagórica. […] ¿qué es la Chingada? La Chingada es la Madre abierta, violada o burlada por la fuerza. El ‘hijo de la Chingada’ es el engedro de la violación, del rapto o de la burla. Si se compara con la ‘hijo de puta’ […] para el mexicano, em ser fruto de uma violación” (PAZ, 1947, p. 5; 9).
Jeissyane Furtado ¹, Drª Simone de Souza ² – ¹ Acadêmica do quinto período do curso de licenciatura plena em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Acre, bolsista de Iniciação Cientifica/CNPq e voluntária do grupo PET-Letras. ² Docente do curso de licenciatura plena em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Acre, doutora em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo, orientadora do programa de Iniciação Cientifica e tutora do grupo PET-Letras.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

MOBILIZAPET

#‎MobilizaPET‬ ‪#‎OPETNãoPara ‬#‎PETTEMLUTA‬ #‎NãoéSóPelaBolsa‬

O PET/Letras apoia com todas as forças MOBILIZAPET

Sobre o PET

O PET é um programa desenvolvido por grupos de estudantes de graduação; bolsistas, colaboradores e voluntários, sob tutela de um docente (tutor). O programa é financiado pelo Governo Federal recebendo verbas direto do MEC. Os grupos PET’s têm como objetivos consagrar qualitativamente o nível da Educação Superior no Brasil a cerca da tríade: ensino, pesquisa e extensão e da educação tutorial.


Revindicação Nacional dos PET`s

O OBJETIVO:
Em nossa conversa, pontuamos a necessidade de colocarmos um objetivo claros em nossa mobilização. Por esse motivo, trouxemos a necessidade de lutarmos pela modificação da resolução referente ao pagamento das bolsas (Resolução nº 42 de 4 de novembro de 2013). De acordo com o artigo II, alínea d, o FNDE tem autonomia para suspender nossas bolsas quando bem entender (ou achar justificável) ou por solicitação do SESu/MEC. O objetivo então seria elaborarmos uma nova resolução para que a anterior seja cancelada. De acordo com o integrante Lucas, representante do CENAPET, esse processo só ocorrerá com o parecer do Ministro da Educação. De uma forma geral, eles criam comissões no Ministério da Educação para legislar sobre algumas portarias e, com isso, conseguimos derrubar/modificar ou retificar a resolução. No entanto, só conseguiremos isso pressionando o Ministério para que essa resolução possa ser revogada e que uma nova seja criada, visando um processo mais claro quanto ao pagamento das bolsas, dentre diversas outras coisas.

CARTA AO MEC:
Discutimos sobre a necessidade de escrevermos uma carta, expondo nosso descontentamento e indignação perante a tal situação de recorrentes atrasos e descaso com o nosso Programa. Essa carta seria de responsabilidade dos grupos PET de cada universidade, os mesmos deverão solicitar à reitoria que essa carta seja enviada ao Ministro da Educação.

CRONOGRAMA DOS ATOS A SEREM REALIZADOS NO ENAPET 2015:
Para que possamos alcançar nosso objetivo, precisamos primeiramente fortalecer nossa luta no ENAPET. Por esse motivo, o petiano Raphael, representante da UDESC, propôs um cronograma com os atos a serem realizados no Encontro.
Os atos ocorrerão da seguinte maneira:

1) Na terça-feira, na reunião de tutores e acadêmicos (às 14:30), adiantaremos as discussões referentes a situação do PET, além da questão da rotatividade de tutores.

2) Na quarta-feira a programação da SBRET acabará pouco antes das 18hs. No auditório que será a assembléia, faremos uma reunião entre petianos e tutores para discutir as dificuldades enfrentadas pelo PET e a precarização da educação, decorridas do ajuste fiscal e da política de austeridade do Joaquim Levy. Além de dialogarmos sobre estratégias legais (no sentido de lei mesmo) que podemos tomar perante o MEC e o governo. Neste horário também será a oficina de cartazes e faixas para o dia seguinte.

3) Na quinta-feira, paralisaremos a programação da SBRET, uma assembléia agendada para às 14:30h. Nossa concentração terá início às 13:30 em frente à ALEPA (teremos pessoas guiando vocês para o local). Enquanto isso, utilizaremos uma caixa de som com microfone para falar, em frente à assembléia, sobre os problemas enfrentados pelo PET, a política de austeridade de Levy e a precarização da educação. Distribuiremos panfletos didáticos à comunidade local (a confecção e impressão ficarão por conta do Raphael, que nos encaminhará anteriormente para que sejam feitas as devidas alterações). Alguns petianos, aos poucos, entrarão na assembleia para entregar os panfletos aos deputados, senadores e lideranças partidárias.

Este é um momento de fortalecimento de nossa luta, por esse motivo peço a todos que estejam presentes. A mobilização no ENAPET será importante para que fiquemos mais articulados, servindo como o passo inicial para levarmos nossa causa à instâncias maiores. Após o ENA, unificaremos nossa luta aos bolsistas de diferentes programas que também estão enfrentando essa precarização. 

Curtam e sigam a pagina PET BRASIL no face, tudo esta sendo repassado por lá. 
Link Facebook: https://www.facebook.com/groups/petbrasil/?fref=ts

O AMOR DIALOGADO EM CAMÕES, FELIPE MOISÉS, E EM HERBERTO HELDER

  Sabemos que na literatura podemos tentar representar o real, por meio da mimese, e que essa representação pode variar de pessoa para pessoa por ser uma leitura de mundo muito subjetiva, cada pessoa significa o texto literário a partir de sua visão. Nesse artigo temos três poemas, dois deles dialogam com o poema camoniano, que tratam sobre o tema do amor em diferentes perspectivas. O primeiro é de Luís Vaz de Camões, o segundo é de Carlos Felipe Moisés e o terceiro é de Herberto Helder. Camões do final do século XVI, Moisés e Helder poetas atuais, mas com abordagens diferentes. O foco deste artigo são as diferentes abordagens sobre o amor e sobre as transformações do amador nas três obras. Camões configura no seu poema a ideia de amor platônico, em que o amador transforma-se na cousa amada, já no poema de Felipe Moisés o amor é rebaixado na escala de paixão, e o amador se transforma a sombra de si mesmo, em nada; e Herberto Helder retrata no seu poema o amor completamente carnal, e o amador não transforma-se, mas possui a coisa amada. Neste poemas podemos perceber as relações de diálogos que os poetas da atualidade, Felipe Moisés em “A Paixão Segundo Camões” e Helder em “Transforma-se o amador na coisa amada”, estabelecem com o clássico poema de Luiz de Camões “Transforma-se o amador na coisa amada”.  

Poema de Luís Vaz de Camões
“Transforma-se o amador na cousa amada”

Transforma-se o amador na coisa amada, 
Por virtude do muito imaginar; 
Não tenho logo mais que desejar, 
Pois em mim tenho a parte desejada

Se nela está minha alma transformada, 
Que mais deseja o corpo de alcançar? 
Em si somente pode descansar, 
Pois consigo tal alma está ligada.

Mas esta linda e pura semidéia, 
Que, como o acidente em seu sujeito, 
Assim como a alma minha se conforma,

Está no pensamento como idéia; 
O vivo e puro amor de que sou feito, 
Como matéria simples busca a forma.

(Luís de Camões. Versos e alguma prosa de. Lisboa: Moraes, 1977).


“A Paixão Segundo Camões” (Carlos Felipe Moisés)
A Paixão Segundo Camões

Transforma-se o amador em coisa alguma,
sem dolo, sem virtude, sem razão.
Por muito amar, dispersa o coração
e rói daquilo que é a alma nenhuma.

As esperanças perde, uma a uma,
de decifrar o rosto da paixão.
Sem rumo, ilhado entre o sim e o não,
perde-se no amor de um mar sem espuma.

Transforma-se o amador em coisa errante,
atira ao vento um grito enrouquecido
e busca se encontrar na coisa amada.

A pele rota, o gesto vacilante,
transforma-se, de amar como um perdido,
em sombra de si mesmo, ausência, nada.

(MOISÉS, Carlos Felipe. Subsolo. São Paulo: Massao Ohno, 1989).


 Análise do Po­­­­ema de Herberto Helder
Transforma-se o amador na coisa amada com seu
feroz sorriso, os dentes,
as mãos que relampejam no escuro. Traz ruído
e silêncio. Traz o barulho das ondas frias
e das ardentes pedras que tem dentro de si.
E cobre esse ruído rudimentar com o assombrado
silêncio da sua última vida.
O amador transforma-se de instante para instante,
e sente-se o espírito imortal do amor
criando a carne em extremas atmosferas, acima
de todas as coisas mortas.

Transforma-se o amador. Corre pelas formas dentro.
E a coisa amada é uma baía estanque.
É o espaço de um castiçal,
a coluna vertebral e o espírito
das mulheres sentadas.
Transforma-se em noite extintora.
Porque o amador é tudo, e a coisa amada
é uma cortina
onde o vento do amador bate no alto da janela
aberta. O amador entra
por todas as janelas abertas. Ele bate, bate, bate.
O amador é um martelo que esmaga.
Que transforma a coisa amada.

Ele entra pelos ouvidos, e depois a mulher
que escuta
fica com aquele grito para sempre na cabeça
a arder como o primeiro dia do verão. Ela ouve
e vai-se transformando, enquanto dorme, naquele grito
do amador.
Depois acorda, e vai, e dá-se ao amador,
dá-lhe o grito dele.
E o amador e a coisa amada são um único grito
anterior de amor.

E gritam e batem. Ele bate-lhe com o seu espírito
de amador. E ela é batida, e bate-lhe
com o seu espírito de amada.
Então o mundo transforma-se neste ruído áspero
do amor. Enquanto em cima
o silêncio do amador e da amada alimentam
o imprevisto silêncio do mundo
e do amor.

(Herberto Helder. A colher na boca. Poesia Toda I, Lisboa: Plátano, 1993)

Adriano Araújo Pereira[1]
e-mail: adrianolotus@hotmail.com

Lusijane Contreira de Freitas[2]
e-mail: jahnny2012@hotmail.com



[1] Bolsista do Programa de Educação Tutoria, PET/Letras UFAC. Graduando do curso de Letras Português, 5º  período, da Universidade Federal do Acre
[2] Graduanda do curso de Letras Português 5º  período, da Universidade Federal do Acre.