quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Vampiros, zumbis & outras monstruosidades – Práticas leitoras adolescentes *


O que você compreende por Literatura de massa? Em poucas palavras, são o que as pessoas andam lendo hoje em dia, através de romances e outras narrativas que tematizam a ação de monstros como zumbis, vampiros e outros seres fantásticos e sobrenaturais. Podemos citar como exemplos títulos presentes na lista de mais vendidos da revista Veja: A Culpa é Das Estrelas, por John Green, O Lado Bom da Vida, por Matthew Quick, A Esperança, por Suzanne Collins – este último pertencente a uma trilogia literária chamada Jogos Vorazes, que você já deve ter ouvido falar através de sua adaptação cinematográfica – que levou o mesmo titulo da trilogia – lançada em 2012 e distribuída no Brasil pela Paris Filmes.
O foco desse artigo é tentar esclarecer – baseado em pesquisas próprias e na obra de Daiane da Silva Lourenço – o porquê desse tipo de literatura interessar tanto os jovens do século XXI, alguns dos fatores já foram deixados implícitos no parágrafo acima, como as adaptações cinematográficas e até mesmo o fato de tais títulos constarem em listas de Os Mais Vendidos. Um dos principais motivos que atraem os jovens à chamada literatura de massa é a facilidade de leitura. Queira ou não, a literatura erudita – clássicos como Dom Casmurro, de Machado de Assis – exige de seu público certo nível de leitura – letramento até – para uma boa e compreensiva leitura. Existem, além desses, vários outros fatores relevantes, que variam de individuo pra individuo, inseridos em contextos sociais específicos. Afinal, “cada um tem seu gosto”.
Como leitores assíduos desse tipo de narrativa, podemos expor alguns fatores pessoais que nos levaram a escolha de um livro desse gênero. Por exemplo, pequenos detalhes técnicos, como o título e a capa, envoltos em um projeto gráfico ousado. “Não se deve julgar um livro pela a capa”, porém assim como um belo prato gourmet, na literatura de massa o que compra o freguês é a apresentação. Segundo Daiane Lourenço, as editoras têm investido cada vez mais na apresentação de seus livros: Capas, resumos, breves reviews, títulos, são essas características marcantes que levam o jovem a abrir o livro, e checar seu conteúdo, antes – ou mesmo depois – da compra.
Há também o fator da continuidade, por assim dizer. Hoje apenas um livro não basta, deve haver sagas, trilogias, quadrilogias, coleções enormes que ultrapassam o número de dez volumes, em alguns casos. Os jovens de hoje anseiam por leituras longas, que se arrastem por horas, e os ‘suguem’ de suas realidades, os transportando para mundos inexistentes. É onde entra outro fator essencial, que torna o conteúdo desse tipo de literatura ainda mais atraente aos leitores de hoje.
Acreditamos que mais de 60% da literatura de massa consumida hoje, se enquadra em categorias como “sobrenatural”, “fantasia”, “ficção cientifica”, “literatura fantástica”. Monstros, seres mitológicos e sobrenaturais sempre habitaram o imaginário humano, e hoje eles habitam as páginas dos livros que nossos jovens consomem. Podemos citar como exemplo: Rick Riordan, escritor norte-americano, autor da saga Percy Jackson & os Olimpianos. Rick se utilizou da mitologia grega, a mesma que sempre atraiu a atenção de jovens como nós, e a levou a um novo nível, digamos assim. Na mitologia de sua saga, a relação entre deuses e humanos tornou-se ainda mais comum do que a relatada nos livros de História Antiga. Em pleno século XXI, semideuses – crianças nascidas da relação entre deuses e humanos – ainda existem no plano do imaginário. Tais crianças são dotadas de poderes herdados do lado divino de seus DNAs, e para ensiná-las a lidar com tais poderes, existe o Acampamento Meio-Sangue. Acampamento para onde são mandadas todas as crianças filhas de deuses do Olimpo.
Percy Jackson & os Olimpianos trata-se de um grande fenômeno mundial, o que nos leva a outro fator interessante: A oportunidade de interação social que tais obras trazem junto de si. A base de fãs de algo, como uma saga literária, é chamada de Fandom, união das palavras “Fan” do inglês, que significa “Fã”. E de “Kingdom” também do inglês, que traduzida se torna “Reino”. Fandom, nada mais é – em certa tradução literal – o reino dos fãs. Citemos, como exemplo, os fãs da saga literária britânica Harry Potter, autointitulados Potterheads. Quando você lê Harry Potter e passa a ser um fã, você passa a ser um Potterhead, e isso te dá à oportunidade de interagir com outros fãs da saga ‘de igual para igual’, aumentando sua base de amigos e sua interação social baseada em gostos em comum e assuntos em comum. Tudo bem, essa já é definição básica de amizade, porém, juntar-se a um fandom é um fenômeno de certa proporção que nem mesmo os participantes de tais ‘reinos’ podem compreender ou explicar.
A literatura de massa é atraente aos jovens olhares, não apenas pelos fatores citados acima, mas por vários outros. O fenômeno do fantástico e dos best-sellers é algo tão complexo e grandioso, que para definirmos o que, de fato, fazem os jovens procurar cada vez mais tais textos e obras, seria necessária uma séria investigação baseada nos fatos acima e em outros. Tal afirmação pode ser confirmada pelo número crescente de estudiosos se especializando nesse tipo de literatura e buscando entendê-la melhor, como a Mestre em Letras que nos ajudou a chegar em muitas das conclusões acima, Daiane da Silva Lourenço.
Aldeir Paiva de Oliveira ¹ Dr.ª Simone de Souza Lima ² – Acadêmico do quinto período do curso de licenciatura plena em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Acre, bolsista de Iniciação Cientifica/UFAC e voluntário do grupo PET-Letras ¹, Docente do curso de licenciatura plena em Letras Vernáculas da Universidade Federal do Acre, doutora em Teoria da Literatura e Literatura Comparada pela Universidade de São Paulo, orientadora do programa de Iniciação Cientifica e tutora do grupo PET-Letras ²